segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sobre golpes e revoluções

Por Ananda Almeida e Débora Emílio

Apesar de constar em livros de História como Golpe, muitos militares, como foi mostrado ano passado em programas especiais pelos 45 anos do ocorrido, consideram sua tomada do poder em 64 uma revolução. Eis por que não é: embora ambos possam significar uma mudança súbita de governo, um golpe é imposto por uma minoria, enquanto uma revolução, segundo definição do sociólogo Jeff Goodwin, envolve a mobilização das massas.

A tomada do poder, no Brasil, se deu exclusivamente pela direita civil e militar, sem nenhuma participação do povo brasileiro, que talvez nem soubesse exatamente o que estava acontecendo naquele dia da mentira, 1º de abril, de 64. Por medo da política simpatizante ao socialismo do então presidente João Goulart, o golpe, como deve ser verdadeiramente chamado, aconteceu e instaurou no país uma ditadura repressiva e conservadora, com inúmeras mortes de pessoas contrárias ao regime.

Anos antes, em 1959, Cuba, que vivia sob uma ditadura e passava por um período de alto índice de desemprego, desigualdade social e era considerada o “bordel” dos Estados Unidos, fazia uma revolução, pois contava com enorme apoio popular. No dia 1º de janeiro, os rebeldes assumiram o poder. Foi feita a reforma agrária, empresas norte-americanas foram nacionalizadas, houve reformulação das políticas de educação e saúde, mas, é bom lembrar: revolução, não golpe; esquerda, não direita; de um jeito ou de outro Cuba não é um mar de rosas.

Um dos líderes da revolução, Fidel Castro foi também um dos maiores ditadores da história, que violou os direitos humanos e escondeu informações. Segundo a escritora cubana Yoani Sánchez, do blog Generación Y, as próprias melhorias conquistadas pela Revolução Cubana devem ser questionadas “Quando se trata de Cuba, as estatísticas oficiais divulgadas pelas nossas embaixadas não devem ser levadas a sério” disse ela em entrevista a Veja, na qual também fala da repressão e diz que “Cuba só é reverenciada por quem nunca morou aqui”.

Por meio de revolução ou de golpe, não importa, as ditaduras assassinam a política que todos as sociedades deveriam viver: a democracia.

2 comentários:

  1. Muito bom como iniciaram a matéria! Na realidade quando olhamos em retrospectiva para a história brasileira percebemos como a participação popular nunca foi manifesta nas tomadas de decisões como Independência (promulgada por um Imperador), 1ª República (determinada por um Marechal); leis sindicais (elaboradas por um ditador) e assim por diante, como bem mencionam no artigo no caso do golpe em 1964. Há historicamente uma divisão entre a intelligentzia (termo cunhado pelo sociólogo italiano Gramsci), que são os chamados intelectuais colaboradores das classes econômicas dominantes cuja função é no plano social e político a imposição ideológica dessas classes. O cientista político René Armand Dreifuss aborda o golpe militar no Brasil nesta perspectiva.
    Além da revolução cubana, poderíamos apontar também a revolução russa, chinesa e tantas outras. Como afirmam cientistas políticos e filósofos, a democracia é o melhor e o pior dos regimes. O melhor porque nos permite as brechas da liberdade, o pior porque numa sociedade passiva politicamente qualquer líder carismático pode identificar-se com o poder a ponto de achar que ele é o próprio poder. Valeu a análise!!!
    Adriana Martinez

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  2. Não há como negar que a ditadura militar no Brasil ocorreu através de um golpe e não de uma revolução, como acreditam e afirmam piamente os generais (conforme entrevista dada pelo general Leônidas Pires mostrada em sala). Como dito, revoluções mobilizam a massa: com a revolução francesa foi assim, pois levou "a burguesia ao poder", com a revolução russa também, pois esta acabou com o poder dos czares e transformou o país num gigante comunista, que depois quebrou as pernas.
    Seria até engraçado, se não fosse trágico, (por pensar que existe quem pense dessa forma), ver alguns participantes do golpe chegarem a dizer que os exilados fugiram do país e não foram mandados embora dele, assim como dizem que a tal "revolução de 64", nem ditadura foi, como disse o general Newton Cruz, o mais "linha dura" deles, em entrevista ao Programa Dossiê, da Globo News

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