segunda-feira, 26 de abril de 2010

A RODA DA VIDA


"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...


A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração..."



Em 1 ° de Abril de 1964 ocorreu um golpe no Brasil, no qual os militares tomaram o poder e controlaram o Estado durante 21 anos. O motivo do golpe, segundo eles, era que o país não tinha uma polítca própria, e que, com a ditadura, seguiria o rumo capitalista trazendo um desenvolvimento progressivo, com o objetivo de retomar um crescimento econômico interrompido nos anos de 1962 e 1963.

Nesse período, o clima no país era tenso. Quase tudo era proibido, a censura foi instaurada no teatro, na TV, no cinema, na música e até nas universidades. Essa repressão ainda se intensificou no governo Costa e Silva com a outorgada do AI-5, que ficou conhecida como política do “tudo é proibido”. Com o Ato Institucional, a população teve sua liberdade de expressão sufocada, portanto, impedidos de exercer uma postura crítica diante dos acontecimentos.

Nesse contexto, um dos grandes artistas da época e causador de grande polêmica foi Chico Buarque. Mesmo reprimido pela censura, expressou através de suas composições, conhecidas por serem muito metafóricas, o momento que a sociedade vivia.

A música Roda Viva, referida acima, faz parte da famosa peça de teatro de mesmo nome, que foi escrita em 1967 por Chico Buarque. Ela chocou parte do público com sua crítica e seu tom agressivo. Foi uma metáfora para driblar a censura. Ela faz apologia à volta da liberdade em plena Ditadura Militar. Roda Viva, segundo a letra, significa a vida cotidiana. Roda Viva representa uma mudança drástica na história e na vida, durante o período da ditadura militar, que é melhor ilustrada nos versos “Mas eis que chega a roda viva /E carrega o destino prá lá”. A música expressa a angústia de quem teve a vida levada por uma “roda”, um sentimento de que nada do que era bom naquele momento, na verdade, existiu. E também um desejo de mudança que era minimizado, ignorado, deixado para lá; esses sentimentos estão representados pela metáfora da fogueira. “O samba, a viola, a roseira/ Que um dia a fogueira queimou”.

O modo pelo qual artistas e compositores aplicaram aos seus trabalhos fez com que fossem perseguidos. E o exílio dos mesmos ocorreu para que as suas ideias não fossem disseminadas. O protesto de Chico foi especialmente criticado por suas composições e, mais tarde, essa crítica o levou a deixar de compor letras líricas e alienantes. Tal atitude fez com que ele passasse a criar canções mais diretas levando-o a enfrentar problemas como a proibição de algumas de suas músicas e uma vasta ficha de ordem política e social (Dops). Assim, o cantor decidiu se auto-exilar na Itália.

Depois de muito tempo retornou, assim participando de grandes festivais, fazendo sucesso com parcerias como do cantor Tom Jobim. Chico não deixou de escrever músicas relacionadas ao aspecto social do país, sendo um dos poucos que resgatam gêneros tradicionais, utilizando em suas canções protestos indiretos e crítico-político do Brasil, como fez com a canção Roda Viva.

Essa e muitas outras composições, que não só envolveram as áreas políticas e sociais como também culturais, representavam um grito pela liberdade, contra a violência imposta pelo regime totalitário no Brasil.


Ana Claudia Cabanas
Amanda Sousa
Iara Aurora
Mariana Campos
Mariana Reis
Thatiana Rós

5 comentários:

  1. Roda Viva não somente “chocou parte do público com sua crítica e seu tom agressivo”. Bem como não, “Foi uma metáfora para driblar a censura”. Lembrem que o teatro TUCA foi invadido pela polícia quando a peça estava sendo apresentada, portanto, houve uma ação violenta e repressiva por parte da polícia que parece ter entendido bem a metáfora utilizada. Por que interpretam que “o desejo de mudança era minimizado” com a estrofe “O samba, a viola, a roseira/ Que um dia a fogueira queimou”? Não seria esta uma alusão à censura?
    O exílio “ocorreu para que as suas idéias não fossem disseminadas”? Ou por que não havia nenhuma outra alternativa para quem estava contra ao regime militar? Já que se ficassem aqui poderiam ser presos ou mortos. O que quiseram dizer quando mencionam que Chico Buarque por ser “criticado” “o levou a deixar de compor letras líricas e alienantes”? Como alienantes? Roda Viva é uma música ou peça alienante? Vejam alienação significa não saber, não conhecer, sentir estranhamento ante situações socio-políticas, estar à margem da política. Por último, vimos em sala a diferença entre regime totalitário e ditatorial, apesar de similares não é correto realizar a afirmação: “regime totalitário no Brasil”.
    Tomem cuidado com a redação, merece uma revisão.
    Adriana Martinez

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  2. A música Roda Viva é metafórica, porém as pessoas compreendiam o que os compositores queriam dizer. Era uma forma indireta de dizer sobre o período militar, mas dessa forma, compositores conseguiam disseminar suas idéias sem que a polícia barrasse a letra, pois não falavam explicitamente sobre o período, e por isso não podiam barra-la. Apesar disso, a população passou a pedir á Chico que suas letras fossem mais diretas.

    No trecho “O samba, a viola, a roseira. Que um dia a fogueira queimou” pode ser um exemplo de composição metafórica. Ela está maquiada, mas seu verdadeiro significado está implícito ali. A fogueira representa a ditadura, a censura na época da ditadura. Então a metáfora, nesse caso, é a palavra Fogueira. Mas durante a canção, podemos perceber todos os significados, por exemplo: “E o desejo de mudança era minimizado”. A Roda da vida, o dia-a-dia, representado pela a palavra roda, como se fosse um ciclo, e este ciclo um dia trouxe a Ditadura, e assim essa etapa da vida tirou o desejo das pessoas, através da censura (teatro, cinema, televisão - nas representações populares/ políticas em geral)- “ A gente vai contra a corrente
    Até não poder resistir”-, por isso o desejo de mudança era minimizado, era barrado, era impedido de acontecer, pois a manifestação ideológica era reprimida- sem voz ativa( Trecho que traz alusão à censura). Por isso, o sonho de mudar essas atitudes foi levado pela Roda da Vida. “Mas eis que chega a roda viva. E carrega a saudade prá lá...”. Assim, o que resta, segundo a composição, é a saudade do que já passou( da roda de samba, do violão...) , e ainda tudo isso passou num instante, “Roda mundo, roda gigante, Roda moinho, roda pião. O tempo rodou num instante. Nas voltas do meu coração...”. Por isso, então, o desejo de mudança foi minimizado, e entendemos todo o significado da composição através de metáforas que trazem alusão à censura.

    Em relação ao exílio, Chico se exilou na Itália por vontade própria, já que se permanecesse aqui poderia até ser morto. E assim, seu auto-exílio ajudou a não disseminar suas ideias, principal objetivo da repressão para a censura nesse período.

    Nós realmente empregamos errado o termo alienante, pois alienante é aquilo que tira da
    realidade, por exemplo, um político que está alienado, está fora do contexto real, ou seja,
    daquilo que está acontecendo no momento. Logo, "Roda Vida" não queria estar fora da
    realidade da Ditadura, muito pelo contrário o objetivo era retratá-la. Confundimos letra 'alienada' com 'subjetiva', podemos sim, afirmar que "Roda Viva" é uma letra subjetiva, pois o objetivo dos versos está nas entrelinhas. Por isso Chico parou de criar letras líricas e subjetivas e não alienantes.

    E realmente erramos ao dizer “regime totalitário no Brasil”, já que podem ser confundidos, apesar de terem diferentes significados. Agora já sabemos a diferença entre eles, por isso o regime militar era caracterizado como autoritário:

    • Autoritarismo descreve uma forma de governo caracterizada pela ênfase na autoridade do Estado em uma república ou união. É um sistema político controlado por legisladores não eleitos que usualmente permitem algum grau de liberdade individual. (Wikipédia)
    • Totalitarismo é um regime político baseado na extensão do poder do Estado a todos os níveis e aspectos da sociedade ("Estado Total", "Estado Máximo"). Pode ser resultado da incorporação do Estado por um Partido (único e centralizador) ou da extensão natural das instituições estatais. Geralmente, é um fenômeno que resulta de extremismos ideológicos e uma paralela desintegração da sociedade civil organizada. (Wikipédia)


    Ana Cláudia Cabanas
    Mariana Campos
    Thatiana Tiemy

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  3. A interpretação “o desejo de mudança era minimizado” partiu da ideia de que o modelo político imposto no Brasil não permitia oposições a suas ordens. A sociedade não podia se manifestar contra o governo, tinha que acatar as decisões militares sem questionamentos. Por mais desejo que os cidadãos sentiam em tentar mudar aquela situação, não havia motivação para agir. Já que o regime militar adotava práticas violentas, como a prisão ou a morte a aqueles que se envolvessem. Por isso, “o desejo de mudança era minimizado” foi entendido como: por mais desejo que houvesse em se rebelar contra a ditadura, esse desejo era cada vez mais minimizado no cidadão que sentia medo de ser preso, torturado ou morto.
    “O samba, a viola, a roseira” foram interpretados como aspectos positivos, “coisas boas” que existiam na vida do povo brasileiro. Já a parte “a fogueira queimou” foi entendida como “ a ditadura destruiu”.
    O governo punia os que se manifestassem contra suas ordens com prisão, tortura, morte e exílio. Por esse motivo, no texto “A Roda da Vida” há a afirmação de que a decisão de Chico Buarque de se auto exilar foi para que as suas ideias não fossem disseminadas. Foi uma decisão pessoal e não imposta pela ditadura, ele saiu do país porque não tinha mais nenhuma alternativa. Já que se ficasse aqui poderia ser punido, preso ou morto. De certa maneira, com essa atitude de Buarque a ditadura atingiu um dos seus objetivos (evitar a influência do comportamento de manifestantes contra o governo na sociedade).
    O protesto de Chico foi especialmente criticado por suas composições e, mais tarde, essa crítica o levou a deixar de compor letras líricas e alienantes. Tal atitude fez com que ele passasse a criar canções mais diretas levando-o a enfrentar problemas como a proibição de algumas de suas músicas e uma vasta ficha de ordem política e social (Dops)
    A palavra alienante foi mal empregada. A mensagem que se desejava passar com esse trecho, é de que Chico Buarque passou a escrever letras mais diretas, sem metáforas.

    Amanda Sousa
    Iara Aurora

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  4. Quando forem utilizar fonte, usem fontes confiáveis. O Wikipedia não é uma fonte confiável.
    Adriana Martinez.

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  5. Tambêm fiz uma análise dessa música, gostaria de saber a sua opinião. Veja em meu site, heitich.com/Chico-Buarque/letras/Roda-Viva.html

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