segunda-feira, 31 de maio de 2010

A saga familiar de Leite Derramado


O capítulo 15 do livro Leite Derramado, traz dois trechos que ajudam a focar as atenções nos acontecimentos da época: "Com a minha entrada as duas desconversaram, passaram a falar da iminência de nova guerra na Europa, das levas de refugiados que aportavam no país diariamente: em Copacabana, Maria Violeta, só se ouve falar em alemão e polaco...".
Esse período é o período da Segunda Guerra Mundial, conflito de ordem política, militar, econômica, social e ideológica entre Alemanha e a Europa inteira. Os refugiados citados no texto, eram do mundo inteiro, onde alguns se fixaram no Brasil.
"Da babá ao portuguesinho do armazém, todos sabiam de sua mãe, desavorada, tinha partido sem deixar um bilhete ou fazer a mala. Mas abandonar uma criança ainda lactente, pequerrucha, de segurar debaixo do braço, isso não entrava na cabeça de ninguém, não fazia sentido, não podia ser."
A presença do capitalismo fica nítida. A diferença de classes, o pensamento de enriquecimento, do consumo deixam os pensamentos cheios de valores morais. O preconceito deixa seu rastro, pela maneira de vida da sociedade naquela época.
Basicamente, o livro traz na sua história, uma linhagem de ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até chegar no tataraneto, um garotão do Rio de Janeiro atual.
Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo, a história do Brasil nos últimos dois séculos.
Stella Curzio

sábado, 15 de maio de 2010

Interpretação dos capítulos 13 ao 15 - Leite Derramado


Renan Carvalhais

Entre os capítulos 13 e 15 do livro Leite Derramado, o autor Chico Buarque conta a trajetória de seu personagem, Eulálio D’Assumpção, passando por momentos marcantes da história brasileira como a chegada da Missão Francesa e o crescimento econômico das décadas de 1950 e 1960.

Em 1935 chegou ao Brasil uma equipe de professores franceses convidados a formar o corpo docente da Universidade de São Paulo e a integrar grupos de pesquisas em outras áreas. Entre os professores da equipe se destaca Claude Lévi-Strauss que foi um dos principais antropólogos na área dos estudos sobre grupos indígenas. No livro de Chico de Buarque, a referência a tal grupo está na chegada do Dubosc, um francês que veio ao Brasil realizar estudos na área de antropologia e que já havia passado por diversos países estudando grupos indígenas ou tribos desconhecidas. Foi esta vasta experiência de Dubosc com expedições a países diferentes, aliás, que despertou o interesse de Matilde no personagem.

Desde o governo Vargas até o final da década de 1970 o Brasil passou por um período de grandes investimentos em infraestrutura e modernização do parque industrial com a chegada das multinacionais. Tais investimentos se concentravam, entre outras, na construção de rodovias, já que era necessário melhorar o escoamento da produção nacional e estimular o transporte rodoviário para sustentar as montadoras de veículos que aqui se instalavam. Como apoio a estas montadoras que aqui chegavam, o governo abriu mão de diversos impostos e “forçou” um mercado interno para estes produtos com o corte de investimentos em transporte ferroviário, por exemplo.

O resultado destes grandes investimentos em infraestrutura, que no período militar ficou conhecido como “milagre econômico” devido ao grande crescimento do PIB na época, foi a contração de uma dívida externa que o país até o Brasil carregou por muitas décadas. No livro Leite Derramado, este período é representado com a venda da fazenda da família Assumpção para o governo que construiu uma rodovia no local. Com a chegada da rodovia, diversas indústrias e moradias irregulares se instalaram na região trazendo problemas que enfrentamos até hoje como a poluição e o crescimento desordenado das cidades.

Estes investimentos em infraestrutura, muito correntes nas décadas de 40 a 70, fazem parte do interesse do Brasil em se alinhar à política neoliberal norte-americana que procurava novos mercados para expandir seus negócios e encontrar mão de obra barata para suas indústrias. Este modelo foi ressuscitado durante o governo Lula com a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que tem investido milhões na modernização de rodovias, portos e aeroportos, porém com a intenção de melhorar a imagem do Brasil no mundo com o país em evidencia devido à Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2010